Me lembro da primeira vez que a vi. Não sei se foi bem
assim. Mas foi assim que gravei na memória. Ela era um bebê, eu já era
grandinha, três ou quatro anos talvez. Eu fui com a minha mãe no
mini-mercadinho da casa dela. E lembro dela no carrinho de bebê. Daí pra frente
em nenhum momento ela saiu da minha vida. E já foram tantas coisas. Vinte anos
se passaram. OutroS vinte virão. Já foram muitos aniversários, meus, dela, das
nossas irmãs, dos nossos pais, das nossas mães, dos nossos amigos...
Incontáveis. Já teve bolo de chocolate (quase sempre), bolo de morango, ontem
eu acho que foi marta-rocha. Já teve brigadeiro de desculpas. Eu já me esqueci
do dia dela. E ela já se esqueceu do meu. Já teve presente atrasado, presente
cobrado e presente que nunca veio. Teve festa na escola, festa na minha casa,
festa na casa dela, festa na igreja. Tanta gente que a gente conheceu. Teve a
Mayara, teve a Sheila, teve a Suane, teve a Pati, teve a Nádia, teve a Aline,
teve a Carol e teve muito mais. Tanta gente que foi. Mas ela continuou ali na
casa amarela (sempre amarela) e eu na casa laranja. Já dançamos e já cantamos.
E ela sempre tocou, ora teclado, ora violão. Era ela quem tinha os brinquedos
da moda, mas, era eu quem tinha a árvore e o balanço, se bem que balanço ela
também tem, embalou a gente tantas vezes, agora embala a minha filha. E tinha a
casinha de boneca, que as vezes era escola, as vezes salão de beleza, as vezes
escritório. E as brigas, ah, as brigas. De ser dizer que era pra sempre. De ser,
apenas, alguns minutos. E também teve dor, muita dor, dor da alma. E tinham as
dores dos machucados do corpo. Da falta da ponta de um dedo, ou, de um dente. A
gente já foi pra longe. Bem longe. A gente foi mais vezes ainda pra perto,
coisa de uma tarde ou um dia. Eu comecei a namorar, ela falou que um dia iria
ter um namorado também. Hoje ela tem. Ela ficou feliz quando eu disse que ia
ter um bebê e ela chorou quando eu disse que ia me casar. Ela entrou pelo
tapete vermelho no dia do meu casamento e me levou uvas com chocolate quando o
bebê nasceu. Ela é chorona. É sincera. É mulher. É vaidosa. É bagunceira. É
desastrada. É segura. É linda. É querida. É inteligente. É preguiçosa. É
esforçada. É briguenta. É determinada. É mãezona. Ela chama a atenção. Ela se
faz de difícil. Ela tem ciúmes. Ela dança bem. Ela gosta de brincos. Ela canta
bonito. Ela gosta de falar no microfone. Ela prefere sapatos. Ela não tem medo.
Ela tem um nome grande como a alma: Andressa Larissa Dias Muller de Souza. Ela é minha amiga. Não. Ela pode ser amiga dos outros. Minha, ela é irmã!
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